quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Resenha do filme: IT - A Coisa


Não há dúvidas que Stephen King é um dos autores modernos mais famosos e influentes, com diversos livros e adaptações para o cinema, algumas entre os melhores filmes de todos os tempos, como Um Sonho de Liberdade e O Iluminado, o livro IT é uma das obras primas do autor, com aproximadamente 1.102 páginas (pelo menos na edição que eu li) de horror, drama e até mesmo humor.

A primeira adaptação da história aconteceu em 1990 em uma mini série de TV, com a atuação icônica de Tim Curry como o palhaço assassino Pennywise, o filme original tem suas qualidades, a relação entre as crianças foi muito bem feita e a atuação de Curry é bem divertida, mas é uma obra que envelheceu mal, os efeitos parecem ser bem mais velhos do que a época do lançamento, e no geral ele não é mais tão assustador, tendo cenas risíveis em alguns momentos que deveriam ser sérios.

"Olá crianças, querem comprar um bagulho mágico?"

Então, diferente de diversos outros remakes que são bem desnecessários, IT é um filme que poderia muito bem ser melhorado, pois a mini-série corta muito dos detalhes mais agressivos do livro (até para poder passar na tv na época), o filme novo poderia finalmente mostrar essas partes e ser mais fiel ainda ao livro.

Felizmente, IT- A coisa não é apenas um dos melhores remakes já feitos, mas também é uma adaptação quase perfeita da atmosfera e estilo de Stephen King.

A trama conta a história da infância de um grupo de amigos na cidade fictícia de Derry (no Maine, assim como praticamente todas as histórias de King), diversas crianças desaparecem deixando apenas pedaços dos corpos, esse grupo é aterrorizado pelo palhaço assassino Pennywise, que consegue mudar de forma para assustar as crianças de acordo com seus medos e devora-las.

 Acima de tudo, IT é um filme sobre amizade

Apesar de se vender como um filme de terror pesado, acho melhor começar dizendo que IT não é exatamente isso, o filme certamente é violento (crianças morrem aqui de forma agressiva) e tem uma atmosfera assustadora, mas o foco é a amizade do grupo, os problemas que eles passam em casa e os traumas que precisam enfrentar, IT é como um Conta Comigo (também de King), só que com um palhaço demoníaco que se alimenta de crianças, se não fosse o teor violento do filme, ele poderia passar tranquilamente em uma Sessão da Tarde.

Isso pode decepcionar muitas pessoas, mas esse é exatamente o motivo de eu ter amado tanto esse filme,  IT é o tipo de filme que eu adoraria assistir quando moleque, apesar de não ter idade para ver, provavelmente seria um dos meus filmes favoritos, pois sempre tive uma relação especial com terror, eu morria de medo, mas continuava procurando coisas para me assustar, e esse sentimento dura até hoje.

Isso não funcionaria se o elenco não fosse tão maravilhoso, as crianças são ótimas nos papéis e fazem o filme funcionar, principalmente Finn Wolfhard (mais conhecido por Stranger Things, que é muito inspirado pelo estilo de King) como Richie, a criança comediante que traz muito do humor do filme, Jaeden Lieberher e Sophia Lilis também estão muito bem como Bill (o moleque com gagueira e líder do grupo) e Beverly (a única menina do grupo).

O terror e humor do filme se encaixam bem pela maior parte, alguns reclamaram que acharam o humor muito excessivo, até consigo entender a reclamação, mas acho que ficou bem balanceado, afinal, nós vemos o ponto de vista das crianças na história, eles não tem a mesma reação que um adulto teria se confrontado com a mesma situação, o importante é que a relação entre elas funciona muito bem, e esse é o coração do filme.

Geralmente em filmes de terror, os personagens são odiáveis, para que o público queira que eles morram, isso não acontece aqui, você acaba se preocupando com as crianças, você não quer que ninguém caia nas garras de Pennywise, então quando as partes de terror começam, os perigos e as perdas são reais, pois o filme já deixa claro desde a primeira cena que crianças não serão poupadas só por serem crianças.

Falando no palhaço, Bill Skasgard faz um bom Pennywise, sua atuação é bem diferente da de Curry, este é bem mais monstruoso mesmo, com uma movimentação e fala estranhas, tem algo de "alienígena" nele (o que faz total sentido considerando o livro).


Não cheguei a ler todo o livro, mas posso dizer que esse filme é bem mais fiel ao espírito do original do que a mini-série,  até a primeira cena contem contém um detalhe bem interessante, a primeira vez que Georgie vê Pennywise no bueiro, inicialmente seus olhos são amarelos, mas mudam para azuis quando Georgie chega mais perto, até mesmo esse detalhe foi colocado no filme. Apesar disso, ainda tem algumas mudanças, uma cena do livro em especifico que todo mundo agradece ter sido ignorada, quem leu provavelmente vai saber do que estou falando.

O filme é longo, mas não se estende mais que o necessário, alias, ele poderia ser mais longo em certas partes (que logo comentarei nas criticas), é uma das poucas adaptações divididas em duas partes que realmente faz sentido.

 As únicas criticas que tenho a fazer é que alguns personagens não recebem tanto desenvolvimento quanto outros, Mike (Chosen Jacobs) é o único do grupo que tem pouco tempo na tela, e Henry Bowers (Nicholas Hamilton) é apenas explorado em uma cena muito curta e difícil de engolir, sabemos que ele é um bully e certamente tem problemas familiares, mas acho que a ação dele naquela cena é bem exagerada.

 Algumas cenas de terror não funcionam muito bem, muitos reclamaram que o filme não é assustador, e apesar de discordar (a cena do bueiro e do data show são bem tensas), admito que há pouca sutileza aqui, os monstros aparecem na tela com um CG bem notável que meio que te tira o medo, mas mesmo assim acredito que o terror realmente não é o foco da história e nem deveria ser, até mesmo no livro isso é mais um bônus.

Apesar dessas falhas, IT - A coisa é a melhor adaptação que o livro poderia ter, eu amei cada minuto do filme e já é um dos meus favoritos nesse ano.

Nota: 9/10

 









quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Rumo à Surdez: Discografias Comentadas - Queens of The Stone Age Parte 2




Songs for The Deaf (2002)
Duração: 60:53


Com o grande sucesso de Rated R, a banda ganhou reconhecimento e com isso o time começou a crescer, o famoso Dave Grohl (do Nirvana e Foo Fighters) se uniu com Homme e Olivieri para tocar bateria neste próximo álbum, o guitarrista Troy Van Leeuwen, que até então tocava no A Perfect Circle, ficou permanentemente na banda.

Songs for The Deaf foi lançado em 27 de agosto de 2002, as críticas foram tão positivas quanto as de Rated R, e foi um dos discos mais vendidos daquele ano, alcançando o 17º lugar na Billboard 200 de mais vendidos, o que para uma banda de rock moderna, é bem alto.

Pessoalmente, Songs for The Deaf é meu álbum favorito de todos os tempos, e é a principal razão de estar escrevendo essa postagem, eu o ouço pelo menos umas 10 vezes todo ano e nunca me canso, na minha opinião é o mais perfeito que um disco de banda pode ser.

As música contém interrupções como se fossem propagandas de rádio, SFTD é um álbum conceitual sobre uma ida de carro de Los Angeles até Joshua Tree, as propagandas são bem satíricas dos rádios da época e injetam um pouco de humor no trabalho.

You Think I'm Ain't Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire ou apenas Millionaire é bem similar a Feel Good Hit of The Summer, é uma faixa que começa o disco de forma bem energética, com os vocais de Nick Olivieri bem rápidos e agressivos. A propaganda no inicio fala sobre a rádio K.L.O.N (clone), até que o narrador comenta sobre um evento chamado Songs For The Deaf, que promete quebrar a repetição de músicas nas rádios de Los Angeles.


No One Knows foi o maior hit do álbum, com um riff inesquecível e um trabalho de bateria exemplar de Dave Grohl, mostrando que ele não tinha enferrujado nenhum um pouco desde o Nirvana, o clipe passava constantemente nos canais de música da época, e continua com o típico humor dos vídeos da banda.

Essa foi a primeira música que ouvi da banda, e foi por causa de sua inclusão no primeiro Guitar Hero de PS2, na época eu curtia mais metal (como Metallica e Iron Maiden), então não dei muita bola pra banda, foi apenas em 2012 que redescobri e decidi ouvir novamente.


First it Giveth foi o segundo single do disco, o baixo é espetacular e o refrão é bem memorável, o clipe mostra imagens de vários shows, incluindo o do Rock In Rio 2001.


A Song for The Dead é praticamente uma faixa de heavy metal, é uma das melhores performances de Grohl na bateria de toda sua carreira, Mark Lanegan volta com sua voz forte, a banda costuma fechar os shows com essa música e o público sempre enlouquece.


Continuamos com The Sky is Falling, uma faixa longa e atmosférica, todo o disco tem uma aura sombria, essa faixa começa a deixar esse lado mais à mostra. Six Shooter é bem parecida com Quick and To The Pointless de Rated R, ou seja, é uma faixa punk de 1 minuto e 20 segundos cantada por Nick Olivieri. Lanegan canta Hangin Tree, outra música que costuma aparecer nos shows da banda e tem participação de Alain Johannes, um colaborador constante da banda.

Go With The Flow, na minha opinião, a melhor música do álbum e de toda a história da banda, até então nenhuma faixa do QoTSA foi romântica, e é questionável se essa pode ser considerada, mas era o mais próximo até então.

A letra é fantástica, com trechos memoráveis como "I want something good to die for, to make it beautiful to live" e "I want a new mistake, lose is more than hesitate", é a segunda faixa de mais sucesso, atrás apenas de No One Knows, para muitos fãs (eu incluso), Go With The Flow é o ponto alto da banda, chegou a ser indicada nos Grammys como melhor faixa de Hard Rock, perdendo para All My Life do Foo Fighters, que também é uma ótima música, mas não chega a ser tão boa quanto essa.

O videoclipe também é extremamente memorável, com muito estilo e efeitos visuais, e foi indicado no MTV Music Awards. A música recebeu diversos covers, incluindo de outra banda de Homme, chamada Eagles of Death Metal.


Eu poderia escrever um artigo inteiro sobre essa música, pois é possivelmente a minha canção favorita de toda a vida, é difícil explicar o porquê, a música favorita de cada um é algo extremamente único, nunca é o mesmo caso e nunca é pelo mesmo motivo, Go With The Flow foi a música certa na hora certa para mim e para muitos outros fãs, tem algo nela de especial.

Gonna Leave You é um pop rock bem chiclete de Olivieri, tem até uma versão em espanhol por alguma razão, e Do It Again é um mini-clássico da banda, tem um riff e refrão espetacular, apesar de ter apenas 2 minutos e 50 segundos, depois segue o maior intervalo de rádio, onde acontece uma falha e uma viagem por várias estações.


O equivalente a Better Living Through Chemistry desse disco seria God is In The Radio, é a melhor faixa com Lanegan aqui e os melhores solos de guitarra do álbum, Another Love Song segue com o estilo pop de Gonna Leave You com Olivieri novamente nos vocais, o solo de guitarra é bem legal também.


Então chegamos a música-titulo A Song For The Deaf, com uma mensagem assustadora no começo, com uma voz feminina dizendo "Aqui está algo para vocês se ajoelharem e adorarem, uma música para surdos, que é para você", no contexto do álbum, esse é o momento onde finalmente chegam a Joshua Tree, mas aparentemente dá algo de muito errado por lá.


O riff é bem similar a No More Tears do Ozzy Osbourne, mas é muito mais sinistro aqui, a letra é assustadora e apocalíptica, culminando nos gritos de Olivieri no final da faixa, o último intervalo de rádio acontece e a banda começa a rir no mesmo ritmo de Feel Good Hit of  The Summer.

Na minha interpretação da história do álbum, ao chegarem a Joshua Tree, a banda é pega e torturada, e então chegamos a última faixa, Mosquito Song, que faz menção a canibalismo, o possível destino da banda nessa história.

"All of us food that hasn't die"

Essa faixa é linda, com um dos melhores riffs de violão que já ouvi, e a participação de diversos instrumentos como gaita, piano e violino, é uma ótima forma de terminar o álbum.

Songs for The Deaf é uma obra prima absoluta, todas as músicas poderiam ser lançadas como singles, não há nenhuma faixa que eu considere passar, é o ápice da banda e na minha opinião é o melhor álbum da década de 2000.

Lista de faixas:

1. You Think I Ain't Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire
2. No One Knows
3. First It Giveth
4. A Song For The Dead
5. The Sky Is Falling
6. Six Shooter
7. Hangin Tree
8. Go With The Flow
9. Gonna Leave You
10. Do It Again
11. God Is In The Radio
12. Another Love Song
13. A Song For The Deaf
14. Mosquito Song

Algumas faixas extras:

Everybody's Gonna be Happy



Um cover da clássica banda The Kinks.

A versão espanhola de Gonna Leave You




Lullabies to Paralyze (2005)
Duração: 59:26


Até então Queens of The Stone funcionou como um supergrupo de amigos músicos de Josh Homme, e apesar de ter ótimos resultados, foi apenas com Lullabies to Paralyze que alguns membros se tornaram fixos na banda. Grohl voltou para trabalhar no Foo Fighters e Joey Castillo do Danzig assumiu a bateria, Leuween volta na guitarra, mas o baixista Nick Olivieri foi demitido após acusações de violência doméstica. O trabalho ainda conta com diversas participações especiais.

As criticas foram bem positivas, ficando apenas um pouco abaixo de Songs for The Deaf , Lullabies entrou em diversas listas como um dos melhores álbuns dos anos 2000, junto com todos os outros da banda.

Mark Lanegan abre o álbum com This Lullaby, uma faixa curtíssima de violão, mas que dá o tom do álbum perfeitamente, Lullabies já se mostra um tanto diferente de Songs for The Deaf.

Então Homme assume os vocais em Medication, igualmente curta mas dessa vez bem mais energética que a primeira faixa.

Everybody knows that you're insane é muito boa, com um refrão bem chiclete e um ótimo trabalho de guitarra de Leuween, conta com um dos melhores solos do disco, alguns fãs acreditam que a letra fala sobre o comportamento de Olivieri durante sua passagem na banda.


Tangled Up In Plaid é o começo de uma sequência de músicas fantásticas no álbum, Burn the Witch tem um dos riffs mais memoráveis dos anos 2000, e a participação do guitarrista Dave Gibbons da lendária banda ZZ Top, também tem um dos clipes mais deliberadamente toscos que já vi.




Seguindo com os sucessos do disco, In My Head esteve até mesmo na trilha sonora do famoso game Need for Speed: Underground 2, é uma faixa que certamente deve causar muita nostalgia não apenas para fãs da banda, mas para fãs do game também.





Seguimos com o que é na minha opinião, a melhor e mais divertida música do álbum, Little Sister é tão boa quanto Go With The Flow, com um baita riff e um ótimo trabalho de Castillo na bateria, não devendo nada para um Dave Grohl da vida, e fazendo o uso mais memorável de um cowbell desde a clássica Don't Fear The Reaper da banda Blue Öyster Cult.


É discutível se Go With The Flow é uma música romântica, mas I Never Came certamente é uma música de separação, talvez a mais comum que a banda tenha feito até então, o que não tira a sua qualidade nem um pouco, de qualquer forma, se você passou por um término recentemente, essa música foi feita para você.




O interessante é que até então, Lullabies é um álbum consideravelmente divertido, apesar de ter temas sombrios, não apresenta nenhuma música realmente assustadora como Songs for The Deaf, isso muda quando Someone Is In The Wolf começa a tocar, diria que essa é uma das faixas mais sombrias da banda, com um riff hipnótico e uma atmosfera bizarra que dura uns belos 7 minutos, aqui começa o segmento infernal do trabalho.

"You don't find a way, The way finds you..."

Após aquela sucessão de hits divertidos, Lullabies ganha outra face com as músicas subsequentes, pode se dizer que Someone'... abre o lado mais sombrio do disco, pois The Blood is Love, Skin on Skin e Broken Box são faixas estranhas e geram um certo desconforto.

Para fechar o segmento infernal, You Got a Killer Scene There, Man... é uma faixa psicodélica e viciante, com diversas participações nos backing vocals incluindo Mark Lanegan, Shirley Manson (da banda Garbage) e Brody Dalle (vocalista da banda The Distillers e esposa de Josh Homme). Me lembro de ouvir essa faixa na terceira temporada de Californication durante uma cena de striptease que combinou perfeitamente.


Terminando o álbum temos Long Slow Goodbye, que sai da aura sombria da segunda metade do disco, é uma faixa bonita que fecha bem, apesar de parecer estranha depois do segmento infernal.

Lista de faixas:

1. This Lullaby
2. Medication
3. Everybody Knows That You're Insane
4. Tangled Up In Plaid
5. In My Head
6. Burn The Witch
7. Little Sister
8. I Never Came
9. Someone's In The Wolf
10. The Blood Is Love
11. Skin On Skin
12. Broken Box
13. You Got A Killer Scene There, Man...
14. Long Slow Goodbye

Agora algumas faixas extras interessantes:

Infinity

Uma regravação de Infinity feita para esse álbum.


Precious and Grace

Regravação de uma música do ZZ Top, cantada por Lanegan.


Like a Drug

Retirada dos Desert Sessions.