domingo, 1 de outubro de 2017

Rumo à Surdez: Discografias Comentadas - Queens of The Stone Age - Parte 3

Era Vulgaris (2007)
Duração: 47:53


 Era Vulgaris foi lançado em 11 de junho de 2007, com uma grande campanha de marketing feita na internet, algo que viraria padrão nos álbuns subsequentes, Troy Van Leuween retorna na guitarra e Joey Castillo na bateria, Michael Shuman assume o baixo dessa vez, substituindo Alain Johainnes que tocou em Lullabies. Assim como todos os outros álbuns da banda, Era Vulgaris conta com diversas participações especiais, apesar de algumas terem sido cortadas no trabalho final.

O som dessa vez é bem mais "sujo" que Songs e Lullabies, parecendo mais uma mistura dos dois primeiros álbuns com alguns instrumentos eletrônicos dessa vez, essa mudança é bem notável desde a primeira faixa Turnin' On The Screw, a letra é bem interessante, com um caso sério de auto-depreciação em trechos como "I'm so tired, and i'm wired too, i'm a mess, i guess i'm turning on the screw", temos uma faixa bem experimental aqui, tanto que a música nem tem um refrão consistente, muitos fãs já tiveram um estranhamento rápido.

Pessoalmente, eu adoro essa música, mas admito que na primeira audição ela é bem estranha, até mesmo para os padrões da banda, me lembro que quando tocaram no show em que fui (em Porto Alegre em 2014), teve um certo silêncio entre o público, enquanto faixas como Go With The Flow e Little Sister faziam todos pular ou cantar junto.


Sick, Sick, Sick foi o primeiro single lançado desse disco, é uma faixa bem mais popular, mas a acho um tanto repetitiva, afinal o riff é apenas uma nota tocada em tempos diferentes, Julian Casablancas dos Strokes participa dos backing vocals na segunda metade da música, o clipe é um tanto nojento, e mostra definitivamente que a banda tem uma queda por canibalismo.

  
I'm Designer continua com o som bizarro do álbum, e uma letra mais bizarra ainda, mas o refrão é bem legal, vale dizer que o tema desse álbum é uma viagem do deserto de volta para Los Angeles , então muito das letras são uma critica ao estilo de vida Hollywoodiano, se em Songs o tema era fugir de Los Angeles, Era Vulgaris é sobre voltar lá.


Into The Hollow volta mais ao estilo de Lullabies, com um som bem mais agradável e uma letra triste e um tanto romântica.

  
Possivelmente a melhor combinação desse novo som é Misfit Love, pessoalmente a minha favorita do álbum, a letra é insana assim como o som, com um final instrumental espetacular, a música inteira é uma bagunça, e parece que no final tudo se encaixa, considero uma das melhores da banda.

"Just a dead man walking through the dead of night..."

Battery Acid é provavelmente a mais esquecível do álbum, é um punk rock divertido, mas fica um pouco abaixo do resto, Make It Wit Chu foi o último single lançado do álbum, é provavelmente a música mais famosa do disco, apesar de fazer aparições nos Desert Sessions desde 2003, a versão original era um dueto de Homme com a cantora P.J. Harvey. O clipe foi gravado no estúdio Rancho de La Luna (onde gravam os Desert Sessions) e lançado no Halloween de 2007.


A versão original

 3's & 7's foi o segundo single lançado, é uma ótima música, até parece que a guitarra dá uma risada no riff, a faixa foi incluída no jogo Guitar Hero III: Legends of Rock, que acredito que seja onde a grande maioria tenha ouvido, me lembro de ser uma música bem divertida de jogar. O clipe é uma homenagem ao cinema exploitation dos anos 70.


Suture Up Your Future é a antítese da faixa acima, essa é bem depressiva e me poderia perfeitamente estar no próximo álbum da banda (Like Clockwork), as versões acústicas dessa música costumam ser muito boas também. 


River In The Road tem um ótimo trabalho de guitarra de Leuween, me lembra de faixas como Hangin' Tree e The Sky Is Falling de Songs, e a última música Run, Pig, Run é provavelmente a mais assustadora do álbum, também lembra Someone's In The Wolf um pouco, eu adoro aquele trecho em 3:30 até o final.




Era Vulgaris recebeu criticas positivas pela maior parte, mas também recebeu algumas negativas, todos os outros álbuns receberam no mínimo avaliações medianas, é a opinião de vários fãs que este é o álbum mais fraco da banda, mas está muito longe de ser ruim, tem apenas três faixas não muito memoráveis, o problema é que ele não dá uma impressão tão grande quanto o restante da discografia, mas no geral eu ainda daria uma nota bem alta, faixas como Misfit Love, Make It Wit Chu e 3's & 7's são algumas das melhores da banda.

Lista de músicas:

1. Turnin' On The Screw
2. Sick, Sick, Sick
3. I'm Designer
4. Into The Hollow
5. Misfit Love
6. Battery Acid
7. Make It Wit Chu
8. 3's & 7's
9. Suture Up Your Future
10. River In The Road
11. Run, Pig, Run

 Algumas faixas que ficaram fora:

White Wedding

Um cover bem lento e atmosférico do clássico do Billy Idol. 


Era Vulgaris
Seria a faixa-titulo, mas Homme a considerou muito fraca para carregar o nome do álbum, contém a participação de Trent Reznor do Nine Inch Nails.

Needle's In The Camel's Eyes  


...Like Clockwork (2013)
Duração: 45:59


 Após cinco longos anos depois de Era Vulgaris, ...Like Clockwork foi lançado em 4 de junho de 2013, também com um grande trabalho de marketing (que eu cheguei a acompanhar), vários clipes com animações foram lançados antes do álbum, geralmente não com toda a música, mas apenas com uma prévia, são esses vídeos que usarei, pois é bem difícil achar as versões completas no YouTube, realmente tem que ouvir o álbum para pegar tudo.

Joey Castillo saiu da banda e deu lugar a Dave Grohl, que voltou para esse álbum, mas parte do trabalho de Castillo ainda está presente no disco, as participações são diversas, com os ex-integrantes Mark Lanegan, Alain Johannes e Nick Olivieri, e outros como Alex Turner do Arctic Monkeys, Trent Reznor do Nine Inch Nails e Elton John (que não precisa de apresentações). Apesar das voltas de Grohl e Olivieri, Michael Shuman continua no baixo e Jon Teodore (do The Mars Volta) assumiu a bateria nos shows que se seguiram, Leuween também continua na guitarra.

 A primeira faixa Keep Your Eyes Peeled tem um dos riffs mais "sujos" e é certamente a mais pesada, o clipe tem a arte do artista Boneface (que também desenhou a capa), pessoalmente é a minha menos favorita do disco, gosto do riff mas acho a música em si um tanto entediante.


I Sat By The Ocean é um pop rock bem divertido que lembra a época Songs/Lullabies. Foi o segundo single e já se tornou um padrão nos setlists dos shows da banda.


The Vampyre of Time And Memory é uma faixa bem única no repertório da banda, sendo o piano o instrumento principal, vale dizer que ...Like Clockwork é definitivamente o álbum mais sombrio da banda, as letras são bem depressivas aqui, minha interpretação dessa música é o sentimento de se sentir sugado por memórias passadas e não conseguir seguir em frente (o que explica o vampiro do título).


 If I Had A Tail também soa diferente do normal, tendo um som dançante bem anos 80, é outra faixa que poderia muito bem ter virado single, Alex Turner e Nick Olivieri fazem backing vocals, mas é bem dificil identificar eles, a letra volta a alguns temas explorados em Era Vulgaris, e o clipe é bem estiloso.



My God Is The Sun foi o primeiro single a ser lançado, a música foi revelada no Loolapalooza Brasil de 2013 (eu lembro porque eu assisti), é uma faixa bem hard rock que a banda esta acostumada a fazer.



Kalopsia é talvez a faixa mais estranha do disco, tem uma grande influência de Alex Turner do Arctic Monkeys, que faz backing vocals junto com Trent Reznor, Turner veio com o titulo da música também, a palavra Kalopsia significa uma condição em que as coisas parecem mais bonitas do que realmente são, infelizmente o clipe é bem curto e só mostra um trecho da música.




Fairweather Friends é a junção das participações especiais, Turner, Olivieri, Lanegan e Reznor estão nos backing vocals e Elton John toca o piano, é uma faixa épica e eu recomendo muito procurar a faixa de estúdio.

Smooth Sailing é puro Eagles of Death Metal (outra banda de Homme), é uma das faixas mais divertidas do disco e tem o único clipe que não é uma animação, contém o típico humor negro dos videos da banda.


 Agora para a melhor música do álbum, e há quem diga que é a melhor música da banda, I Appear Missing é épica, e eu diria certamente que é o melhor trabalho da banda (apesar de minha favorita ainda ser Go With The Flow), a letra foi inspirada em um acontecimento da vida de Homme em que ele passou por uma cirurgia e seu coração parou de bater por alguns segundos, ele foi revivido pelos médicos, mas passou uns 4 meses em estado de depressão, isso é notável em alguns trechos como "Calling all comas" e "Pinned like a note in a hospital gown" . O vídeo é meu favorito dos que foram lançados, apesar de que há um problema sério nele, não tem o final da música.



O final dessa música é uma das coisas mais poderosas que já ouvi, lembro que a primeira vez cheguei a me arrepiar com o solo de guitarra e o modo como a música cresce num ápice, essa parte é o suficiente para comprar o álbum, felizmente achei um vídeo que tem o final completo.



Se o resto do disco já não fosse triste o suficiente, a faixa título ...Like Clockwork é pra destruir emocionalmente de uma vez, toda a faixa é dominada pelo piano e pela letra depressiva, não é um final feliz, inclusive o último trecho é "It's all downhill from here".


...Like Clockwork foi aclamado pela crítica, ficando apenas atrás de Songs for The Deaf no Metacritic, os fãs também reagiram muito positivamente ao disco, pessoalmente ele é meu segundo favorito, todas as faixas aqui são muito fortes e estão entre as melhores músicas da história da banda, de um ponto de vista artístico, é definitivamente o melhor trabalho do grupo, mas ainda acho que Songs tem um impacto maior.

Villains (2017)
Duração:  48:00



Após a turnê de Like Clockwork, Homme disse em entrevistas estar trabalhando em material novo, e tocou a música Villains of Circumstance em shows (isso ainda em 2014), apesar disso, levou mais três anos e meio para o novo álbum ser anunciado, porque muitos dos membros da banda estavam em projetos derivados, Homme e Ferdita se juntaram com Iggy Pop e formaram a banda Post Pop Depression, que lançou álbum ano passado, Michael Shuman trabalhou no segundo disco de seu grupo Mini Mansions em 2015, e Leeuwen tocou guitarra no supergrupo Gone is Gone.

Até que em junho desse ano foi postado um vídeo no canal da banda com um skit de humor anunciando o novo álbum, foi revelado que o disco se chamaria Villains e que o famoso produtor Mark Ronson estaria produzindo, mais conhecido por seu trabalho com artistas pop como Adele, Lady Gaga e Bruno Mars (o hit Uptown Funk é de autoria dele, Mars apenas participa), a data de lançamento foi 25/08/2017.



Alguns fãs acharam estranho a escolha de Ronson como produtor, apesar do próprio ser um mega fã da banda, foi dito no vídeo que o som desse disco seria mais "dançante" , então muitos ficaram receosos que a banda gravaria algo bem mais pop, deixando o rock de lado, como algumas outras bandas costumam fazer.

Felizmente não é o caso, o estilo do QoTSA ainda se mantém bem notável nesse novo trabalho, apesar de algumas pequenas diferenças, esse é o primeiro disco da banda que não contém nenhuma participação especial, por exemplo.

Feet Don't Fail Me Now abre o disco em ótima forma, com uma intro de 1 minuto e meio antecipando um riff bem divertido, realmente tem uma vibe mais dançante, mas ainda é puro Queens of The Stone Age.


Um pouco depois do vídeo anunciando o álbum, o primeiro single foi lançado, The Way You Used To Do é bem energética, é uma boa escolha de single, mas comparada ao resto do álbum ela se tona um pouco fraca, o riff e refrão não parecem muito originais.


Domesticated Animals lembra muito algo tirado de Era Vulgaris, tem um pouco de I'm Designer, a letra é bem interessante e ela cresce bem perto do final.


Fortress é muito boa, com uma das poucas letras positivas da banda, parece ser uma mensagem de Homme para suas filhas (arte do vídeo parece indicar isso), com a ideia de que cada pessoa constroi uma fortaleza emocional que a faz sentir segura, e quando é destruida ela pode reconstruir ou buscar refúgio nas fortalezas das pessoas que ela ama. 

"It ain't if you fall
But how you rise that says who you really are"

Head Like A Haunted House está destinada a ser a favorita de muita gente nesse álbum, é a mais dançante do trabalho, o riff é ótimo, a letra é insana e divertida de cantar.


Un-reborn Again até um tempo atrás era facilmente a mais "passável" para mim, mas após ouvir diversas vezes, acho seriamente que é a melhor do álbum, tem muito de Like Clockwork aqui, o refrão é espetacular e tem um trabalho multinstrumental no final que a diferencia do resto do disco.

 "Frozen in pose locked up in amber eternally 
Buried so close to the fountain of youth you can almost reach"

Hideaway acabou se tornando a mais pássavel dessa vez, apesar que ainda a acho uma faixa bem legal, a letra é interessante e a parte instrumental também, o único problema é que ela nunca cresce para algo melhor, apenas mantém o mesmo ritmo do inicio.



The Evil Has Landed foi o segundo single do álbum, o riff é bem forte e o ritmo é legal, realmente parece algo tirado do Them Crooked Vultures, mas não acho que foi uma boa escolha para single (Head Like A Haunted House deveria ter sido), é uma faixa longa e meio repetitiva, não vende muito bem o disco.



Por último, Villains of Circumstance poderia muito bem ter sido a I Appear Missing desse disco, e por um momento até parece que vai ser, mas a parte final é um tanto decepcionante, é claramente uma faixa de Like Clockwork que ficou de fora (tanto que foi composta um pouco depois do lançamento em 2013), eu gosto da letra e da ideia de um "vilão trágico", mas acho que poderia ter sido bem melhor, falta um solo no final.



As críticas foram pela maior parte bem positivas, não tanto quanto seu antecessor e nenhuma negativa como em Era Vulgaris, também está vendendo bem, dessa vez ficou em terceiro lugar na Billboard 200 na semana de lançamento. 

Pessoalmente considero o trabalho mais fraco da banda até então, mas isso só prova o quão boa a banda é, pois esse ainda é um álbum acima da média e vale lembrar que nenhum disco da banda está abaixo, todos são bons de alguma forma, seja o som mais sujo de Queens e Era Vulgaris, a fábrica de hits de Songs e Lullabies, ou os sombrios Like Clockwork e Rated R, Queens of The Stone Age é a banda de rock moderna mais consistente no mercado.






 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Resenha do filme: IT - A Coisa


Não há dúvidas que Stephen King é um dos autores modernos mais famosos e influentes, com diversos livros e adaptações para o cinema, algumas entre os melhores filmes de todos os tempos, como Um Sonho de Liberdade e O Iluminado, o livro IT é uma das obras primas do autor, com aproximadamente 1.102 páginas (pelo menos na edição que eu li) de horror, drama e até mesmo humor.

A primeira adaptação da história aconteceu em 1990 em uma mini série de TV, com a atuação icônica de Tim Curry como o palhaço assassino Pennywise, o filme original tem suas qualidades, a relação entre as crianças foi muito bem feita e a atuação de Curry é bem divertida, mas é uma obra que envelheceu mal, os efeitos parecem ser bem mais velhos do que a época do lançamento, e no geral ele não é mais tão assustador, tendo cenas risíveis em alguns momentos que deveriam ser sérios.

"Olá crianças, querem comprar um bagulho mágico?"

Então, diferente de diversos outros remakes que são bem desnecessários, IT é um filme que poderia muito bem ser melhorado, pois a mini-série corta muito dos detalhes mais agressivos do livro (até para poder passar na tv na época), o filme novo poderia finalmente mostrar essas partes e ser mais fiel ainda ao livro.

Felizmente, IT- A coisa não é apenas um dos melhores remakes já feitos, mas também é uma adaptação quase perfeita da atmosfera e estilo de Stephen King.

A trama conta a história da infância de um grupo de amigos na cidade fictícia de Derry (no Maine, assim como praticamente todas as histórias de King), diversas crianças desaparecem deixando apenas pedaços dos corpos, esse grupo é aterrorizado pelo palhaço assassino Pennywise, que consegue mudar de forma para assustar as crianças de acordo com seus medos e devora-las.

 Acima de tudo, IT é um filme sobre amizade

Apesar de se vender como um filme de terror pesado, acho melhor começar dizendo que IT não é exatamente isso, o filme certamente é violento (crianças morrem aqui de forma agressiva) e tem uma atmosfera assustadora, mas o foco é a amizade do grupo, os problemas que eles passam em casa e os traumas que precisam enfrentar, IT é como um Conta Comigo (também de King), só que com um palhaço demoníaco que se alimenta de crianças, se não fosse o teor violento do filme, ele poderia passar tranquilamente em uma Sessão da Tarde.

Isso pode decepcionar muitas pessoas, mas esse é exatamente o motivo de eu ter amado tanto esse filme,  IT é o tipo de filme que eu adoraria assistir quando moleque, apesar de não ter idade para ver, provavelmente seria um dos meus filmes favoritos, pois sempre tive uma relação especial com terror, eu morria de medo, mas continuava procurando coisas para me assustar, e esse sentimento dura até hoje.

Isso não funcionaria se o elenco não fosse tão maravilhoso, as crianças são ótimas nos papéis e fazem o filme funcionar, principalmente Finn Wolfhard (mais conhecido por Stranger Things, que é muito inspirado pelo estilo de King) como Richie, a criança comediante que traz muito do humor do filme, Jaeden Lieberher e Sophia Lilis também estão muito bem como Bill (o moleque com gagueira e líder do grupo) e Beverly (a única menina do grupo).

O terror e humor do filme se encaixam bem pela maior parte, alguns reclamaram que acharam o humor muito excessivo, até consigo entender a reclamação, mas acho que ficou bem balanceado, afinal, nós vemos o ponto de vista das crianças na história, eles não tem a mesma reação que um adulto teria se confrontado com a mesma situação, o importante é que a relação entre elas funciona muito bem, e esse é o coração do filme.

Geralmente em filmes de terror, os personagens são odiáveis, para que o público queira que eles morram, isso não acontece aqui, você acaba se preocupando com as crianças, você não quer que ninguém caia nas garras de Pennywise, então quando as partes de terror começam, os perigos e as perdas são reais, pois o filme já deixa claro desde a primeira cena que crianças não serão poupadas só por serem crianças.

Falando no palhaço, Bill Skasgard faz um bom Pennywise, sua atuação é bem diferente da de Curry, este é bem mais monstruoso mesmo, com uma movimentação e fala estranhas, tem algo de "alienígena" nele (o que faz total sentido considerando o livro).


Não cheguei a ler todo o livro, mas posso dizer que esse filme é bem mais fiel ao espírito do original do que a mini-série,  até a primeira cena contem contém um detalhe bem interessante, a primeira vez que Georgie vê Pennywise no bueiro, inicialmente seus olhos são amarelos, mas mudam para azuis quando Georgie chega mais perto, até mesmo esse detalhe foi colocado no filme. Apesar disso, ainda tem algumas mudanças, uma cena do livro em especifico que todo mundo agradece ter sido ignorada, quem leu provavelmente vai saber do que estou falando.

O filme é longo, mas não se estende mais que o necessário, alias, ele poderia ser mais longo em certas partes (que logo comentarei nas criticas), é uma das poucas adaptações divididas em duas partes que realmente faz sentido.

 As únicas criticas que tenho a fazer é que alguns personagens não recebem tanto desenvolvimento quanto outros, Mike (Chosen Jacobs) é o único do grupo que tem pouco tempo na tela, e Henry Bowers (Nicholas Hamilton) é apenas explorado em uma cena muito curta e difícil de engolir, sabemos que ele é um bully e certamente tem problemas familiares, mas acho que a ação dele naquela cena é bem exagerada.

 Algumas cenas de terror não funcionam muito bem, muitos reclamaram que o filme não é assustador, e apesar de discordar (a cena do bueiro e do data show são bem tensas), admito que há pouca sutileza aqui, os monstros aparecem na tela com um CG bem notável que meio que te tira o medo, mas mesmo assim acredito que o terror realmente não é o foco da história e nem deveria ser, até mesmo no livro isso é mais um bônus.

Apesar dessas falhas, IT - A coisa é a melhor adaptação que o livro poderia ter, eu amei cada minuto do filme e já é um dos meus favoritos nesse ano.

Nota: 9/10

 









quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Rumo à Surdez: Discografias Comentadas - Queens of The Stone Age Parte 2




Songs for The Deaf (2002)
Duração: 60:53


Com o grande sucesso de Rated R, a banda ganhou reconhecimento e com isso o time começou a crescer, o famoso Dave Grohl (do Nirvana e Foo Fighters) se uniu com Homme e Olivieri para tocar bateria neste próximo álbum, o guitarrista Troy Van Leeuwen, que até então tocava no A Perfect Circle, ficou permanentemente na banda.

Songs for The Deaf foi lançado em 27 de agosto de 2002, as críticas foram tão positivas quanto as de Rated R, e foi um dos discos mais vendidos daquele ano, alcançando o 17º lugar na Billboard 200 de mais vendidos, o que para uma banda de rock moderna, é bem alto.

Pessoalmente, Songs for The Deaf é meu álbum favorito de todos os tempos, e é a principal razão de estar escrevendo essa postagem, eu o ouço pelo menos umas 10 vezes todo ano e nunca me canso, na minha opinião é o mais perfeito que um disco de banda pode ser.

As música contém interrupções como se fossem propagandas de rádio, SFTD é um álbum conceitual sobre uma ida de carro de Los Angeles até Joshua Tree, as propagandas são bem satíricas dos rádios da época e injetam um pouco de humor no trabalho.

You Think I'm Ain't Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire ou apenas Millionaire é bem similar a Feel Good Hit of The Summer, é uma faixa que começa o disco de forma bem energética, com os vocais de Nick Olivieri bem rápidos e agressivos. A propaganda no inicio fala sobre a rádio K.L.O.N (clone), até que o narrador comenta sobre um evento chamado Songs For The Deaf, que promete quebrar a repetição de músicas nas rádios de Los Angeles.


No One Knows foi o maior hit do álbum, com um riff inesquecível e um trabalho de bateria exemplar de Dave Grohl, mostrando que ele não tinha enferrujado nenhum um pouco desde o Nirvana, o clipe passava constantemente nos canais de música da época, e continua com o típico humor dos vídeos da banda.

Essa foi a primeira música que ouvi da banda, e foi por causa de sua inclusão no primeiro Guitar Hero de PS2, na época eu curtia mais metal (como Metallica e Iron Maiden), então não dei muita bola pra banda, foi apenas em 2012 que redescobri e decidi ouvir novamente.


First it Giveth foi o segundo single do disco, o baixo é espetacular e o refrão é bem memorável, o clipe mostra imagens de vários shows, incluindo o do Rock In Rio 2001.


A Song for The Dead é praticamente uma faixa de heavy metal, é uma das melhores performances de Grohl na bateria de toda sua carreira, Mark Lanegan volta com sua voz forte, a banda costuma fechar os shows com essa música e o público sempre enlouquece.


Continuamos com The Sky is Falling, uma faixa longa e atmosférica, todo o disco tem uma aura sombria, essa faixa começa a deixar esse lado mais à mostra. Six Shooter é bem parecida com Quick and To The Pointless de Rated R, ou seja, é uma faixa punk de 1 minuto e 20 segundos cantada por Nick Olivieri. Lanegan canta Hangin Tree, outra música que costuma aparecer nos shows da banda e tem participação de Alain Johannes, um colaborador constante da banda.

Go With The Flow, na minha opinião, a melhor música do álbum e de toda a história da banda, até então nenhuma faixa do QoTSA foi romântica, e é questionável se essa pode ser considerada, mas era o mais próximo até então.

A letra é fantástica, com trechos memoráveis como "I want something good to die for, to make it beautiful to live" e "I want a new mistake, lose is more than hesitate", é a segunda faixa de mais sucesso, atrás apenas de No One Knows, para muitos fãs (eu incluso), Go With The Flow é o ponto alto da banda, chegou a ser indicada nos Grammys como melhor faixa de Hard Rock, perdendo para All My Life do Foo Fighters, que também é uma ótima música, mas não chega a ser tão boa quanto essa.

O videoclipe também é extremamente memorável, com muito estilo e efeitos visuais, e foi indicado no MTV Music Awards. A música recebeu diversos covers, incluindo de outra banda de Homme, chamada Eagles of Death Metal.


Eu poderia escrever um artigo inteiro sobre essa música, pois é possivelmente a minha canção favorita de toda a vida, é difícil explicar o porquê, a música favorita de cada um é algo extremamente único, nunca é o mesmo caso e nunca é pelo mesmo motivo, Go With The Flow foi a música certa na hora certa para mim e para muitos outros fãs, tem algo nela de especial.

Gonna Leave You é um pop rock bem chiclete de Olivieri, tem até uma versão em espanhol por alguma razão, e Do It Again é um mini-clássico da banda, tem um riff e refrão espetacular, apesar de ter apenas 2 minutos e 50 segundos, depois segue o maior intervalo de rádio, onde acontece uma falha e uma viagem por várias estações.


O equivalente a Better Living Through Chemistry desse disco seria God is In The Radio, é a melhor faixa com Lanegan aqui e os melhores solos de guitarra do álbum, Another Love Song segue com o estilo pop de Gonna Leave You com Olivieri novamente nos vocais, o solo de guitarra é bem legal também.


Então chegamos a música-titulo A Song For The Deaf, com uma mensagem assustadora no começo, com uma voz feminina dizendo "Aqui está algo para vocês se ajoelharem e adorarem, uma música para surdos, que é para você", no contexto do álbum, esse é o momento onde finalmente chegam a Joshua Tree, mas aparentemente dá algo de muito errado por lá.


O riff é bem similar a No More Tears do Ozzy Osbourne, mas é muito mais sinistro aqui, a letra é assustadora e apocalíptica, culminando nos gritos de Olivieri no final da faixa, o último intervalo de rádio acontece e a banda começa a rir no mesmo ritmo de Feel Good Hit of  The Summer.

Na minha interpretação da história do álbum, ao chegarem a Joshua Tree, a banda é pega e torturada, e então chegamos a última faixa, Mosquito Song, que faz menção a canibalismo, o possível destino da banda nessa história.

"All of us food that hasn't die"

Essa faixa é linda, com um dos melhores riffs de violão que já ouvi, e a participação de diversos instrumentos como gaita, piano e violino, é uma ótima forma de terminar o álbum.

Songs for The Deaf é uma obra prima absoluta, todas as músicas poderiam ser lançadas como singles, não há nenhuma faixa que eu considere passar, é o ápice da banda e na minha opinião é o melhor álbum da década de 2000.

Lista de faixas:

1. You Think I Ain't Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire
2. No One Knows
3. First It Giveth
4. A Song For The Dead
5. The Sky Is Falling
6. Six Shooter
7. Hangin Tree
8. Go With The Flow
9. Gonna Leave You
10. Do It Again
11. God Is In The Radio
12. Another Love Song
13. A Song For The Deaf
14. Mosquito Song

Algumas faixas extras:

Everybody's Gonna be Happy



Um cover da clássica banda The Kinks.

A versão espanhola de Gonna Leave You




Lullabies to Paralyze (2005)
Duração: 59:26


Até então Queens of The Stone funcionou como um supergrupo de amigos músicos de Josh Homme, e apesar de ter ótimos resultados, foi apenas com Lullabies to Paralyze que alguns membros se tornaram fixos na banda. Grohl voltou para trabalhar no Foo Fighters e Joey Castillo do Danzig assumiu a bateria, Leuween volta na guitarra, mas o baixista Nick Olivieri foi demitido após acusações de violência doméstica. O trabalho ainda conta com diversas participações especiais.

As criticas foram bem positivas, ficando apenas um pouco abaixo de Songs for The Deaf , Lullabies entrou em diversas listas como um dos melhores álbuns dos anos 2000, junto com todos os outros da banda.

Mark Lanegan abre o álbum com This Lullaby, uma faixa curtíssima de violão, mas que dá o tom do álbum perfeitamente, Lullabies já se mostra um tanto diferente de Songs for The Deaf.

Então Homme assume os vocais em Medication, igualmente curta mas dessa vez bem mais energética que a primeira faixa.

Everybody knows that you're insane é muito boa, com um refrão bem chiclete e um ótimo trabalho de guitarra de Leuween, conta com um dos melhores solos do disco, alguns fãs acreditam que a letra fala sobre o comportamento de Olivieri durante sua passagem na banda.


Tangled Up In Plaid é o começo de uma sequência de músicas fantásticas no álbum, Burn the Witch tem um dos riffs mais memoráveis dos anos 2000, e a participação do guitarrista Dave Gibbons da lendária banda ZZ Top, também tem um dos clipes mais deliberadamente toscos que já vi.




Seguindo com os sucessos do disco, In My Head esteve até mesmo na trilha sonora do famoso game Need for Speed: Underground 2, é uma faixa que certamente deve causar muita nostalgia não apenas para fãs da banda, mas para fãs do game também.





Seguimos com o que é na minha opinião, a melhor e mais divertida música do álbum, Little Sister é tão boa quanto Go With The Flow, com um baita riff e um ótimo trabalho de Castillo na bateria, não devendo nada para um Dave Grohl da vida, e fazendo o uso mais memorável de um cowbell desde a clássica Don't Fear The Reaper da banda Blue Öyster Cult.


É discutível se Go With The Flow é uma música romântica, mas I Never Came certamente é uma música de separação, talvez a mais comum que a banda tenha feito até então, o que não tira a sua qualidade nem um pouco, de qualquer forma, se você passou por um término recentemente, essa música foi feita para você.




O interessante é que até então, Lullabies é um álbum consideravelmente divertido, apesar de ter temas sombrios, não apresenta nenhuma música realmente assustadora como Songs for The Deaf, isso muda quando Someone Is In The Wolf começa a tocar, diria que essa é uma das faixas mais sombrias da banda, com um riff hipnótico e uma atmosfera bizarra que dura uns belos 7 minutos, aqui começa o segmento infernal do trabalho.

"You don't find a way, The way finds you..."

Após aquela sucessão de hits divertidos, Lullabies ganha outra face com as músicas subsequentes, pode se dizer que Someone'... abre o lado mais sombrio do disco, pois The Blood is Love, Skin on Skin e Broken Box são faixas estranhas e geram um certo desconforto.

Para fechar o segmento infernal, You Got a Killer Scene There, Man... é uma faixa psicodélica e viciante, com diversas participações nos backing vocals incluindo Mark Lanegan, Shirley Manson (da banda Garbage) e Brody Dalle (vocalista da banda The Distillers e esposa de Josh Homme). Me lembro de ouvir essa faixa na terceira temporada de Californication durante uma cena de striptease que combinou perfeitamente.


Terminando o álbum temos Long Slow Goodbye, que sai da aura sombria da segunda metade do disco, é uma faixa bonita que fecha bem, apesar de parecer estranha depois do segmento infernal.

Lista de faixas:

1. This Lullaby
2. Medication
3. Everybody Knows That You're Insane
4. Tangled Up In Plaid
5. In My Head
6. Burn The Witch
7. Little Sister
8. I Never Came
9. Someone's In The Wolf
10. The Blood Is Love
11. Skin On Skin
12. Broken Box
13. You Got A Killer Scene There, Man...
14. Long Slow Goodbye

Agora algumas faixas extras interessantes:

Infinity

Uma regravação de Infinity feita para esse álbum.


Precious and Grace

Regravação de uma música do ZZ Top, cantada por Lanegan.


Like a Drug

Retirada dos Desert Sessions.





domingo, 20 de agosto de 2017

Rumo à Surdez: Discografias Comentadas - Queens of The Stone Age (Parte 1)



Olá, pessoal.

Tenho três bandas que considero minhas favoritas, uma é a britânica Arctic Monkeys, da qual a discografia foi uma das minhas primeiras postagens. Um pouco depois escrevi sobre Foo Fighters, e na época disse ser minha banda favorita, mas atualmente mudei de ideia para outra banda que também já gostava, mas que após pensar muito sobre o assunto, cheguei a conclusão que é a definitiva, essa banda é Queens of The Stone Age.

Aproveitando o lançamento do novo álbum Villains, que acontecerá dia 25 deste mês, decidi escrever sobre a discografia da banda e terminar com a resenha do novo disco.

Vinda de Palm Desert na Califórnia, Queens of The Stone Age foi fundada por Josh Homme, que até então tinha sido o guitarrista das bandas Kyuss e Screaming Trees, em paralelo ao projeto The Desert Sessions, que pegava vários artistas para gravar músicas experimentais.

A banda Kyuss já tinha certo reconhecimento, com riffs pesados e de clima setentista, em um gênero que ficou conhecido como Stoner Rock/Desert Rock, com músicas que refletem bem o cenário em que foram gravadas.




O Queens of The Stone Age (que eu chamarei de QoTSA daqui em diante para não escrever o nome todo) seria como uma sucessora espiritual do Kyuss, só que tentando pegar um público maior, o que acabou dando bem certo.

 Foi lançado um EP em 1997 chamado Kyuss/Queens of The Stone Age que é uma mistura das duas bandas, o EP tem seis faixas, as três primeiras são do Kyuss, e as três últimas são do QoTSA, uma delas é  "If Only Everything", que foi regravada no primeiro álbum da banda posteriormente.


Então em 22 de setembro de 1998, o álbum homônimo foi lançado, com Josh Homme na guitarra, baixo e vocal e Alfredo Hernández na bateria, com várias participações especiais.

Queens of The Stone Age (1998)
Duração: 46:27


Regular John abre o disco mostrando exatamente o tipo de som que ouviremos pelo resto da duração, é uma ótima introdução ao estilo da banda.


Segue com Avon, que tem um riff bem reminiscente do Kyuss e a regravação de If Only, dessa vez com uma produção bem melhor e rebuscada.


You Would Know é uma viagem de ácido com um som robótico e mecânico, How to Handle a Rope tem um ótimo riff que é o mais divertido do disco, apesar da letra ser um tanto sombria (se trata de suicídio).


Mexicola e Hispanic Impressions são bem pesadas e mantém o ritmo de How to Handle a Rope, e então finalmente chegamos a minha favorita do álbum, You Can't Quit Me, Baby é espetacular, com um dos riffs de baixo mais estilosos que já ouvi, um som psicodélico pelo restante da faixa e novamente uma letra sombria, com um trecho que eu costumo repetir em loop (You're solid gold, I see you in hell) toda vez que toca.


Como se o baixo da música anterior já não fosse bom o suficiente, começa Give The Mule What He Wants com outro riff memorável.


O álbum termina com I Was a Teenage Hand Model, que é a única música que está um pouco abaixo do resto, a faixa é mais lenta e nunca cresce, não é um bom desfecho para o álbum, se encaixaria melhor na metade, talvez entre Mexicola e Hispanic Impressions.

Faixas:
1- Regular John
2- Avon
3- If Only
4- Walkin' on the Sidewalks
5- You Would Know
6- How to Handle a Rope
7 - Mexicola
8- Hispanic Impressions
9- You Can't Quit Me, Baby
10- Give the Mule what He Wants
11- I Was a Teenage Hand Model

Queens of The Stone Age é um debut exemplar, que honra o som pesado do Kyuss e apresenta os ritmos da nova banda, é uma ótima transição de estilos, mas ainda não parece ser algo próprio, isso é algo que seria aperfeiçoado no próximo álbum da banda.

Agora algumas músicas que ficaram fora do álbum e merecem uma ouvida:

Spiders and Vinegaroons



Uma ótima e atmosférica faixa instrumental, originalmente do EP Kyuss/Queens of The Stone Age que foi colocada no relançamento de 2011 do álbum.

The Bronze



These Aren't the Droids You're Looking For



Outra instrumental, deliberadamente fora de tom e um tanto irritante, vale pela menção do título, que é uma referência a Star Wars, "esses não são os dróides que você procura".



Rated R (2000)
Duração: 42:10



O primeiro disco não foi exatamente um sucesso, pois a grande maioria de quem comprou já era fã de outros trabalhos passados de Homme, foi com Rated R, lançado em 6 de junho de 2000, que a banda fez um sucesso considerável, dessa vez chamando a atenção do grande público e se tornando uma das maiores promessas do rock moderno.

O baixista do Kyuss Nick Olivieri começou a tocar na banda durante a turnê do primeiro disco, e se tornou o baixista da banda nesse álbum, Mark Lanegan do Screaming Trees também participou nos vocais, Rated R contém várias participações especiais, apenas Olivieri e Homme estão em todas as faixas.

Feel Good Hit of the Summer começa o álbum de forma energética, a letra é bem polêmica, simplesmente sendo uma lista de drogas repetida várias vezes (nicotina, valium, vicodine, marijuana ecstasy, álcool e cocaína), apesar que Homme disse ser apenas uma piada, e originalmente seria a última faixa,  Rob Halford do Judas Priest faz parte dos backing vocals, mas apenas no último verso (tanto que eu nunca notei que era ele até pesquisar informações para essa postagem).

Pessoalmente eu acho que Feel Good Hit of The Summer é um comentário sobre como todas as músicas populares são feitas (à base de muitas drogas), o próprio titulo faz uma brincadeira com essa ideia, sendo o "hit do verão", além disso também é uma brincadeira ao gênero Stoner Rock, (Stoner é uma gíria para drogado) do qual a banda foi rotulada, Homme sempre disse achar esse nome idiota, e intitulou o estilo da banda como "Robot Rock".

Muitas rádios recusaram tocar a música por conta do conteúdo sobre drogas, mas ainda foi um sucesso considerável, muita por conta dessa polêmica mesmo.


Apesar de toda a discussão de Hit of the Summer, o verdadeiro grande hit do álbum foi a segunda faixa The Lost Art of Keeping a Secret, eu gosto muito do começo com aquele som de clima de mistério, o refrão é bem legal também, é uma bom pedaço de pop rock, mas não é minha favorita do disco nem de longe.

O clipe passou bastante em canais de música na época, e foi um dos primeiros singles famosos da banda.


Leg of Lamb tem um som bem interessante e diferente das duas primeiras faixas, sendo mais estranha e experimental, Auto Pilot é ótima e conta com os vocais de Nick Olivieri, o baixista geralmente canta nas faixas mais agressivas, então é surpreendente ouvi-lo numa mais leve, e funciona muito bem.




Better Living Through Chemistry é uma ótima peça experimental e conta com algum dos melhores solos de guitarra da história da banda, novamente tocando no assunto de narcóticos que permeia todo o álbum, dessa vez muito mais séria que Hit of the Summer, falando sobre os efeitos negativos.



Monsters in The Parasol volta ao estilo mais pop, e apesar de ter o melhor clipe entre os vídeos lançados, é minha menos favorita do álbum, não é nem de longe uma música ruim, mas ela nunca me pegou do mesmo jeito que as outras, o clipe tem bastante humor negro, algo que viraria padrão nos vídeos da banda.


Quick and to the Pointless volta com Nick Olivieri, dessa vez com vocais agressivos e um som bem punk, Wendy Rae Fowler da banda We Fell to Earth participa nos backing vocals, é uma faixa bem rápida, não passa nem de 2 minutos e serve mais como um intervalo, até me pergunto se o título não é uma brincadeira com isso (a tradução é rápido e para o inútil).

In the Fade é minha favorita do disco, tem um dos melhores trabalhos vocais que já ouvi, com a voz forte de Mark Lanegan em uma faixa bem triste, todos os instrumentos estão perfeitos aqui (principalmente o baixo), o refrão é incrível.

 
"Live till you die..."

Feel good hit of the summer toca novamente em reprise por uns 20 segundos, e Tension Head continua com a agressividade de Olivieri nos vocais e um ótimo trabalho de guitarra de Homme, Lighting Song é uma bela peça instrumental de violão.

Terminando o álbum temos I Think I Lost My Headache, que é uma representação do que acontece após usar todas as drogas da primeira faixa, é uma faixa bem sombria e um pouco assustadora, com um final feito para dar a dor de cabeça citada no título, é uma ótima conclusão para o disco no geral.



"It's all my head, i know
or so they tell me so
Until my head explodes, into my head it goes..."

Rated R foi um álbum revolucionário não somente para a banda, mas para todo cenário do rock dos anos 2000, é considerado por muitos críticos um dos melhores discos da década (o melhor para alguns), e catapultou o sucesso da banda de uma vez só, tanto que foram chamados para o Rock in Rio 2001 logo depois, tamanho o sucesso que tinham feito com Rated R, e que causou um dos casos mais engraçados e bizarros na história do Rock in Rio, quando Nick Olivieri tocou nu durante o show.

Faixas:

1. Feel Good Hit of The Summer
2. The Lost Art of Keeping a Secret
3. Leg of Lamb
4. Auto Pilot
5. Better Living Through Chemistry
6. Monster in The Parasol
7. Quick and To The Pointless
8. In The Fade
9. Feel Good Hit of The Summer (Reprise)
10. Tension Head
11. Lightning Song
12. I Think I Lost My Headache

Agora algumas músicas que ficaram fora do álbum e merecem uma ouvida:

Never Say Never




Um ótimo cover de Romeo Void, com uma repaginada mais rock n' roll.

Ode to Clarissa



Uma faixa bem divertida de Nick Olivieri.


Infinity




Uma das melhores da banda, feita para a trilha sonora do terrível filme Heavy Metal 2000.

Para não deixar essa postagem grande demais e carregada de vídeos, continuarei em mais duas partes, no próximo falarei sobre Songs for The Deaf e Lullabies to Paralyze.

Até mais!
  

domingo, 13 de agosto de 2017

Resenhas: Dunkirk, Em Ritmo de Fuga e Planeta dos Macacos: A Guerra

Olá, pessoal!

Eu sinto como se não escrevesse nada há uns 4 meses, o que de fato é o que aconteceu, me lembro de ter escrito em alguma postagem em janeiro "que tentaria postar regularmente no blog", o que eu já quebrei completamente, por várias razões pessoais, mas agora voltei pra algumas postagens novas, tenho várias ideias para os próximos meses e vou focar mais aqui.

Com isso dito, assisti três filmes dos quais estava esperando bastante nesse ano, o primeiro foi Dunkirk, seguido de Em Ritmo de Fuga e por último o terceiro Planeta dos Macacos (dessa nova trilogia).

Então, sem muitas delongas, vamos as resenhas:

Dunkirk (2017)
Dirigido por Christopher Nolan



É engraçado ler meu artigo sobre a carreira de Christopher Nolan lá em 2014 quando Interestelar foi lançado, era o inicio do blog, com um autor bem mais inexperiente e exageradamente otimista, tem coisas bem pretensiosas e que já não me identifico mais escritas lá, mas é um bom lembrete de como eu amadureci durante esse anos.

Minhas opiniões sobre alguns filmes mudaram bastante, A Origem era meu filme favorito dele até então, mas hoje em dia mudei para O Grande Truque, após analisar mais objetivamente, o filme dos mágicos parece bem melhor construído, com uma mensagem que me toca muito mais que o filme dos sonhos.

Minha opinião sobre Interestelar continua a mesma, é um filme decente, não é tão maravilhoso quanto alguns dizem e não chega nem perto de ser tão ruim quanto outros apontam, é bem dirigido, atuado e escrito pela maior parte, mas tem erros bem visíveis e não tão fáceis de ignorar.

Agora com Dunkirk, Nolan mostra o filme mais diferente de sua carreira, sem plot twists, quase nada de exposição, apenas um espetáculo de imagem e som sobre um dos momentos mais tensos da Segunda Guerra Mundial, e sinceramente, eu não gostei tanto quanto eu gostaria.

Tecnicamente falando, Dunkirk é ótimo, e irá definitivamente apanhar alguns prêmios Oscar esse ano, a direção é espetacular, o som e efeitos visuais (na maioria práticos) são alguns dos melhores que já vi, as atuações são decentes, com veteranos como Mark Rylance e Kenneth Brannagh e novatos como Fionn Whitehead e Harry Stiles sendo sutis e expressivos ao mesmo tempo, mas eu quase não me senti apegado ao filme. É um ótimo exercício em tensão e suspense, mas a única parte que me emocionou foi o final.

A trilha sonora de Hans Zimmer é bem efetiva e foi feita sob medida para o filme, sendo bem tensa e tendo um enorme senso de urgência, mas é bem comum em comparação com outras trilhas do compositor.


A narrativa não-linear não fez muito sentido pra mim, até parece que a edição é confusa apenas pra ser, eu ouvi argumentos dizendo que era para o espectador se sentir tão desnorteado quanto os personagens do filme, mas acho que não era realmente necessário, mesmo que fosse em ordem, as revelações da história continuariam as mesmas, não é como em Amnésia onde faz todo sentido a trama ser fora de ordem.

Dunkirk é um filme centrado no evento, e não nos personagens por trás do acontecimento, me lembrou bastante de filmes como Gravidade e até mesmo Mad Max: Estrada da Fúria, mais pela questão de ter poucos diálogos e por maior parte da história ser contada através das cenas de ação.

Vendo por esse lado, eu provavelmente deveria gostar de Dunkirk, mas o filme simplesmente não me pegou. Eu ainda recomendo por ser um ótimo espetáculo visual e acredito que muitos irão amar o filme (como já estão), mas eu pessoalmente sai um pouco decepcionado do cinema.

Nota: 6,5/10




Em Ritmo de Fuga (2017)
Dirigido por Edgar Wright



Um filme bem diferente do resenhado acima, se Dunkirk é extremamente tenso, Em Ritmo de Fuga é extremamente divertido, o que já é de se esperar do diretor Egdar Wright, o mesmo de Chumbo Grosso e Scott Pilgrim Vs. O Mundo.

Na trama, Baby (Alsel Elgort) é um jovem motorista de fugas com um problema auditivo que o faz ouvir um zunido, então ele ouve música o tempo todo para abafar o zunido, ele se apaixona pela garçonete Debora (Lily James) e decide abandonar a vida criminosa, mas isso não será tão fácil quanto ele pensa, pois seu grupo tem planos diferentes pra ele.

O filme é quase um musical de certa forma, incorporando as batidas e letras da música com o cenário, nenhuma música está apenas jogada ali, todas elas fazem sentido no contexto, para dar alguns exemplos, há um cena onde Baby está caminhando até um lugar e a letra da música aparece pichada na parede, em outra cena acontece um tiroteio onde todos os tiros estão no ritmo da bateria, a direção e a edição são ótimas e usam esse estilo de formas bem criativas.

O elenco é muito bom, apesar de todos estarem fazendo papéis bem comuns de suas carreiras, Alsel Elgort é o protagonista bonitinho, Lily James é o par romântico, Kevin Spacey é o chefe criminoso, Jamie Foxx é um bandido maluco, Jon Hamm é um ex-empresário de Wall Street e Eiza Gónzalez é uma mexicana linda, ou seja, todos já fizeram esses papéis antes, o que dá certa naturalidade e familiaridade pro expectador.


As cenas de ação são muito boas (algo que o diretor já havia provado com Chumbo Grosso), usando muitas manobras reais nas perseguições, apesar de ser bem estiloso e exagerado, ele não chega no mesmo nível de exagero de um Velozes e Furiosos da vida, o que eu acho ótimo.

A trilha sonora é bem variada, raramente há um segundo de silêncio no filme, certamente vale a pena procurar todas as bandas e artistas que estão na trilha do filme, pois com algumas exceções, são canções bem obscuras, admito que reconheci poucas, minha favorita das que eu reconheci é Hocus Pocus da banda Focus, que toca em um momento bem climático do filme.


Algo que gostei foi que apesar de o roteiro não ter nada demais, era difícil prever para onde ele iria, tem muitos filmes em que dá para adivinhar toda a trama na metade, e esse tem reviravoltas inesperadas do meio pro final, essa imprevisibilidade foi um ponto bem positivo.

Os únicos pontos negativos é que o romance entre Baby e Debora é muito rápido, os dois atores tem química, mas há pouco desenvolvimento pra você acreditar que eles iriam seguir um ao outro independente do perigo, outro é que o roteiro pega muita coisa emprestada de outros filmes modernos, toda a parte de Baby ter fitas gravadas e um trauma de infância relacionado a mãe é muito semelhante a história de Starlord em Guardiões da Galáxia, e praticamente toda a plot é similar a de Drive, um garoto silencioso que é motorista de fugas e se apaixona por uma garçonete, e acaba envolvendo ela na vida de crime, é claro que o tom de ambos os filmes são bem diferentes (Drive é um suspense), mas as semelhanças são bem fortes.

Mas tirando isso, Em Ritmo de Fuga é estiloso, divertido e muito bem executado, apesar de não ser exatamente o novo clássico que alguns estão dizendo ser, ainda vale muito a pena assisti-lo.

Nota: 8/10




Planeta dos Macacos: A Guerra
Dirigido por Matt Reeves



Quando Planeta dos Macacos: A Origem foi anunciado anos atrás, pouquíssimos acreditavam que algo bom sairia (eu incluso), o marketing era bem duvidoso e tinha poucas expectativas para o filme, até que foi lançado e as criticas foram bem positivas, decidi assistir e gostei muito, mas ainda parecia faltar algo, aquela metáfora forte do filme original ainda não estava bem representada.

Então o segundo filme chegou em 2014, e foi melhor ainda, com uma mensagem mais forte e uma trama bem executada, mas ainda havia alguns problemas pequenos, e agora o terceiro filme da nova trilogia finalmente chegou aos cinemas, e como ele se sai em comparação aos anteriores?

Eu diria que Planeta dos Macacos: A Guerra é um dos melhores filmes que vi esse ano e teve um impacto muito forte em mim, algo que poucos fizeram esse ano em 2017 (Logan também está na lista).

Após o conflito do filme anterior, César e seu grupo são constantemente atacados por um exercito comandado por um coronel cruel, depois de algumas perdas fatais, César vai em busca de vingança contra os humanos, mas teme se tornar tão ruim quanto seus inimigos.

Vou começar já afirmando que esse é um dos blockbusters mais sombrios que já vi, apesar de ter a classificação 14 anos, eu não o recomendo para nenhuma criança, apesar de que foi hilário ver todas as crianças saindo traumatizadas da sessão.

O marketing do filme infelizmente não foi muito fiel ao material, o último Planeta dos Macacos não é exatamente um filme de ação, mas um drama de guerra, é praticamente um filme de holocausto, boa parte de sua duração se passa em um tipo de campo de concentração, então não vá assistir esperando uma batalha épica entre macacos e humanos, a guerra aqui se refere mais a miséria e destruição do que um combate direto.

Andy Serkis faz seu melhor trabalho como o símio líder César, e certamente deveria ser indicado a um Oscar de melhor ator, nem precisa fazer uma nova categoria para personagens digitais, o nível de expressão e drama do ator aqui já é suficiente para ser considerado em um dos prêmios principais.

É interessante ver a evolução do personagem até aqui, começando como um animal normal e lentamente ganhando consciência até chegar a figura messiânica adorada nos filmes antigos, Woody Harrelson também está ótimo como o vilão humano do filme, muito inspirado em General Kurtz de Apocalypse Now, seu personagem é odioso, mas é compreensível ao mesmo tempo.

A maior parte da trama é no ponto de vista dos macacos, o que eu achei ótimo, pois já desejava que o filme anterior fosse dessa forma, desde Westworld ano passado eu não via uma peça de ficção tão misantrópica desse jeito, e isso é um mega elogio.

Apesar disso, a trama não é tão maniqueísta quanto parece, fica claro durante a trilogia que ambos macacos e humanos podem ser bons e maus, mas no geral, os humanos são os vilões do filme, com exceção da personagem Nova, que é mostrada como uma representação da esperança, ela é naturalmente gentil e muito diferente do restante da humanidade.

Outro ponto positivo é a trilha sonora de Michael Giacchino, bem similar a trilha de Lost (que ele também compôs), as faixas são tristes, inspiradoras e emocionantes, e na minha opinião, também merecia uma indicação ao Oscar.




Minha única reclamação é que próximo do final, o filme tem algumas decisões de roteiro que achei um pouco preguiçosas, e as analogias são um pouco óbvias, só digamos que o vilão quer construir um muro e obriga os símios a fazer, não que eu discorde do ponto de vista do filme, mas eu queria algo um pouco mais sútil.

Mas isso é algo mínimo, Planeta dos Macacos: A Guerra é um ótimo filme que fecha a trilogia magistralmente, até então é meu filme favorito do ano, só se prepare para levar alguns lenços para o caso de você chorar, o que vai ser bem provável.

Nota: 10/10