domingo, 1 de outubro de 2017

Rumo à Surdez: Discografias Comentadas - Queens of The Stone Age - Parte 3

Era Vulgaris (2007)
Duração: 47:53


 Era Vulgaris foi lançado em 11 de junho de 2007, com uma grande campanha de marketing feita na internet, algo que viraria padrão nos álbuns subsequentes, Troy Van Leuween retorna na guitarra e Joey Castillo na bateria, Michael Shuman assume o baixo dessa vez, substituindo Alain Johainnes que tocou em Lullabies. Assim como todos os outros álbuns da banda, Era Vulgaris conta com diversas participações especiais, apesar de algumas terem sido cortadas no trabalho final.

O som dessa vez é bem mais "sujo" que Songs e Lullabies, parecendo mais uma mistura dos dois primeiros álbuns com alguns instrumentos eletrônicos dessa vez, essa mudança é bem notável desde a primeira faixa Turnin' On The Screw, a letra é bem interessante, com um caso sério de auto-depreciação em trechos como "I'm so tired, and i'm wired too, i'm a mess, i guess i'm turning on the screw", temos uma faixa bem experimental aqui, tanto que a música nem tem um refrão consistente, muitos fãs já tiveram um estranhamento rápido.

Pessoalmente, eu adoro essa música, mas admito que na primeira audição ela é bem estranha, até mesmo para os padrões da banda, me lembro que quando tocaram no show em que fui (em Porto Alegre em 2014), teve um certo silêncio entre o público, enquanto faixas como Go With The Flow e Little Sister faziam todos pular ou cantar junto.


Sick, Sick, Sick foi o primeiro single lançado desse disco, é uma faixa bem mais popular, mas a acho um tanto repetitiva, afinal o riff é apenas uma nota tocada em tempos diferentes, Julian Casablancas dos Strokes participa dos backing vocals na segunda metade da música, o clipe é um tanto nojento, e mostra definitivamente que a banda tem uma queda por canibalismo.

  
I'm Designer continua com o som bizarro do álbum, e uma letra mais bizarra ainda, mas o refrão é bem legal, vale dizer que o tema desse álbum é uma viagem do deserto de volta para Los Angeles , então muito das letras são uma critica ao estilo de vida Hollywoodiano, se em Songs o tema era fugir de Los Angeles, Era Vulgaris é sobre voltar lá.


Into The Hollow volta mais ao estilo de Lullabies, com um som bem mais agradável e uma letra triste e um tanto romântica.

  
Possivelmente a melhor combinação desse novo som é Misfit Love, pessoalmente a minha favorita do álbum, a letra é insana assim como o som, com um final instrumental espetacular, a música inteira é uma bagunça, e parece que no final tudo se encaixa, considero uma das melhores da banda.

"Just a dead man walking through the dead of night..."

Battery Acid é provavelmente a mais esquecível do álbum, é um punk rock divertido, mas fica um pouco abaixo do resto, Make It Wit Chu foi o último single lançado do álbum, é provavelmente a música mais famosa do disco, apesar de fazer aparições nos Desert Sessions desde 2003, a versão original era um dueto de Homme com a cantora P.J. Harvey. O clipe foi gravado no estúdio Rancho de La Luna (onde gravam os Desert Sessions) e lançado no Halloween de 2007.


A versão original

 3's & 7's foi o segundo single lançado, é uma ótima música, até parece que a guitarra dá uma risada no riff, a faixa foi incluída no jogo Guitar Hero III: Legends of Rock, que acredito que seja onde a grande maioria tenha ouvido, me lembro de ser uma música bem divertida de jogar. O clipe é uma homenagem ao cinema exploitation dos anos 70.


Suture Up Your Future é a antítese da faixa acima, essa é bem depressiva e me poderia perfeitamente estar no próximo álbum da banda (Like Clockwork), as versões acústicas dessa música costumam ser muito boas também. 


River In The Road tem um ótimo trabalho de guitarra de Leuween, me lembra de faixas como Hangin' Tree e The Sky Is Falling de Songs, e a última música Run, Pig, Run é provavelmente a mais assustadora do álbum, também lembra Someone's In The Wolf um pouco, eu adoro aquele trecho em 3:30 até o final.




Era Vulgaris recebeu criticas positivas pela maior parte, mas também recebeu algumas negativas, todos os outros álbuns receberam no mínimo avaliações medianas, é a opinião de vários fãs que este é o álbum mais fraco da banda, mas está muito longe de ser ruim, tem apenas três faixas não muito memoráveis, o problema é que ele não dá uma impressão tão grande quanto o restante da discografia, mas no geral eu ainda daria uma nota bem alta, faixas como Misfit Love, Make It Wit Chu e 3's & 7's são algumas das melhores da banda.

Lista de músicas:

1. Turnin' On The Screw
2. Sick, Sick, Sick
3. I'm Designer
4. Into The Hollow
5. Misfit Love
6. Battery Acid
7. Make It Wit Chu
8. 3's & 7's
9. Suture Up Your Future
10. River In The Road
11. Run, Pig, Run

 Algumas faixas que ficaram fora:

White Wedding

Um cover bem lento e atmosférico do clássico do Billy Idol. 


Era Vulgaris
Seria a faixa-titulo, mas Homme a considerou muito fraca para carregar o nome do álbum, contém a participação de Trent Reznor do Nine Inch Nails.

Needle's In The Camel's Eyes  


...Like Clockwork (2013)
Duração: 45:59


 Após cinco longos anos depois de Era Vulgaris, ...Like Clockwork foi lançado em 4 de junho de 2013, também com um grande trabalho de marketing (que eu cheguei a acompanhar), vários clipes com animações foram lançados antes do álbum, geralmente não com toda a música, mas apenas com uma prévia, são esses vídeos que usarei, pois é bem difícil achar as versões completas no YouTube, realmente tem que ouvir o álbum para pegar tudo.

Joey Castillo saiu da banda e deu lugar a Dave Grohl, que voltou para esse álbum, mas parte do trabalho de Castillo ainda está presente no disco, as participações são diversas, com os ex-integrantes Mark Lanegan, Alain Johannes e Nick Olivieri, e outros como Alex Turner do Arctic Monkeys, Trent Reznor do Nine Inch Nails e Elton John (que não precisa de apresentações). Apesar das voltas de Grohl e Olivieri, Michael Shuman continua no baixo e Jon Teodore (do The Mars Volta) assumiu a bateria nos shows que se seguiram, Leuween também continua na guitarra.

 A primeira faixa Keep Your Eyes Peeled tem um dos riffs mais "sujos" e é certamente a mais pesada, o clipe tem a arte do artista Boneface (que também desenhou a capa), pessoalmente é a minha menos favorita do disco, gosto do riff mas acho a música em si um tanto entediante.


I Sat By The Ocean é um pop rock bem divertido que lembra a época Songs/Lullabies. Foi o segundo single e já se tornou um padrão nos setlists dos shows da banda.


The Vampyre of Time And Memory é uma faixa bem única no repertório da banda, sendo o piano o instrumento principal, vale dizer que ...Like Clockwork é definitivamente o álbum mais sombrio da banda, as letras são bem depressivas aqui, minha interpretação dessa música é o sentimento de se sentir sugado por memórias passadas e não conseguir seguir em frente (o que explica o vampiro do título).


 If I Had A Tail também soa diferente do normal, tendo um som dançante bem anos 80, é outra faixa que poderia muito bem ter virado single, Alex Turner e Nick Olivieri fazem backing vocals, mas é bem dificil identificar eles, a letra volta a alguns temas explorados em Era Vulgaris, e o clipe é bem estiloso.



My God Is The Sun foi o primeiro single a ser lançado, a música foi revelada no Loolapalooza Brasil de 2013 (eu lembro porque eu assisti), é uma faixa bem hard rock que a banda esta acostumada a fazer.



Kalopsia é talvez a faixa mais estranha do disco, tem uma grande influência de Alex Turner do Arctic Monkeys, que faz backing vocals junto com Trent Reznor, Turner veio com o titulo da música também, a palavra Kalopsia significa uma condição em que as coisas parecem mais bonitas do que realmente são, infelizmente o clipe é bem curto e só mostra um trecho da música.




Fairweather Friends é a junção das participações especiais, Turner, Olivieri, Lanegan e Reznor estão nos backing vocals e Elton John toca o piano, é uma faixa épica e eu recomendo muito procurar a faixa de estúdio.

Smooth Sailing é puro Eagles of Death Metal (outra banda de Homme), é uma das faixas mais divertidas do disco e tem o único clipe que não é uma animação, contém o típico humor negro dos videos da banda.


 Agora para a melhor música do álbum, e há quem diga que é a melhor música da banda, I Appear Missing é épica, e eu diria certamente que é o melhor trabalho da banda (apesar de minha favorita ainda ser Go With The Flow), a letra foi inspirada em um acontecimento da vida de Homme em que ele passou por uma cirurgia e seu coração parou de bater por alguns segundos, ele foi revivido pelos médicos, mas passou uns 4 meses em estado de depressão, isso é notável em alguns trechos como "Calling all comas" e "Pinned like a note in a hospital gown" . O vídeo é meu favorito dos que foram lançados, apesar de que há um problema sério nele, não tem o final da música.



O final dessa música é uma das coisas mais poderosas que já ouvi, lembro que a primeira vez cheguei a me arrepiar com o solo de guitarra e o modo como a música cresce num ápice, essa parte é o suficiente para comprar o álbum, felizmente achei um vídeo que tem o final completo.



Se o resto do disco já não fosse triste o suficiente, a faixa título ...Like Clockwork é pra destruir emocionalmente de uma vez, toda a faixa é dominada pelo piano e pela letra depressiva, não é um final feliz, inclusive o último trecho é "It's all downhill from here".


...Like Clockwork foi aclamado pela crítica, ficando apenas atrás de Songs for The Deaf no Metacritic, os fãs também reagiram muito positivamente ao disco, pessoalmente ele é meu segundo favorito, todas as faixas aqui são muito fortes e estão entre as melhores músicas da história da banda, de um ponto de vista artístico, é definitivamente o melhor trabalho do grupo, mas ainda acho que Songs tem um impacto maior.

Villains (2017)
Duração:  48:00



Após a turnê de Like Clockwork, Homme disse em entrevistas estar trabalhando em material novo, e tocou a música Villains of Circumstance em shows (isso ainda em 2014), apesar disso, levou mais três anos e meio para o novo álbum ser anunciado, porque muitos dos membros da banda estavam em projetos derivados, Homme e Ferdita se juntaram com Iggy Pop e formaram a banda Post Pop Depression, que lançou álbum ano passado, Michael Shuman trabalhou no segundo disco de seu grupo Mini Mansions em 2015, e Leeuwen tocou guitarra no supergrupo Gone is Gone.

Até que em junho desse ano foi postado um vídeo no canal da banda com um skit de humor anunciando o novo álbum, foi revelado que o disco se chamaria Villains e que o famoso produtor Mark Ronson estaria produzindo, mais conhecido por seu trabalho com artistas pop como Adele, Lady Gaga e Bruno Mars (o hit Uptown Funk é de autoria dele, Mars apenas participa), a data de lançamento foi 25/08/2017.



Alguns fãs acharam estranho a escolha de Ronson como produtor, apesar do próprio ser um mega fã da banda, foi dito no vídeo que o som desse disco seria mais "dançante" , então muitos ficaram receosos que a banda gravaria algo bem mais pop, deixando o rock de lado, como algumas outras bandas costumam fazer.

Felizmente não é o caso, o estilo do QoTSA ainda se mantém bem notável nesse novo trabalho, apesar de algumas pequenas diferenças, esse é o primeiro disco da banda que não contém nenhuma participação especial, por exemplo.

Feet Don't Fail Me Now abre o disco em ótima forma, com uma intro de 1 minuto e meio antecipando um riff bem divertido, realmente tem uma vibe mais dançante, mas ainda é puro Queens of The Stone Age.


Um pouco depois do vídeo anunciando o álbum, o primeiro single foi lançado, The Way You Used To Do é bem energética, é uma boa escolha de single, mas comparada ao resto do álbum ela se tona um pouco fraca, o riff e refrão não parecem muito originais.


Domesticated Animals lembra muito algo tirado de Era Vulgaris, tem um pouco de I'm Designer, a letra é bem interessante e ela cresce bem perto do final.


Fortress é muito boa, com uma das poucas letras positivas da banda, parece ser uma mensagem de Homme para suas filhas (arte do vídeo parece indicar isso), com a ideia de que cada pessoa constroi uma fortaleza emocional que a faz sentir segura, e quando é destruida ela pode reconstruir ou buscar refúgio nas fortalezas das pessoas que ela ama. 

"It ain't if you fall
But how you rise that says who you really are"

Head Like A Haunted House está destinada a ser a favorita de muita gente nesse álbum, é a mais dançante do trabalho, o riff é ótimo, a letra é insana e divertida de cantar.


Un-reborn Again até um tempo atrás era facilmente a mais "passável" para mim, mas após ouvir diversas vezes, acho seriamente que é a melhor do álbum, tem muito de Like Clockwork aqui, o refrão é espetacular e tem um trabalho multinstrumental no final que a diferencia do resto do disco.

 "Frozen in pose locked up in amber eternally 
Buried so close to the fountain of youth you can almost reach"

Hideaway acabou se tornando a mais pássavel dessa vez, apesar que ainda a acho uma faixa bem legal, a letra é interessante e a parte instrumental também, o único problema é que ela nunca cresce para algo melhor, apenas mantém o mesmo ritmo do inicio.



The Evil Has Landed foi o segundo single do álbum, o riff é bem forte e o ritmo é legal, realmente parece algo tirado do Them Crooked Vultures, mas não acho que foi uma boa escolha para single (Head Like A Haunted House deveria ter sido), é uma faixa longa e meio repetitiva, não vende muito bem o disco.



Por último, Villains of Circumstance poderia muito bem ter sido a I Appear Missing desse disco, e por um momento até parece que vai ser, mas a parte final é um tanto decepcionante, é claramente uma faixa de Like Clockwork que ficou de fora (tanto que foi composta um pouco depois do lançamento em 2013), eu gosto da letra e da ideia de um "vilão trágico", mas acho que poderia ter sido bem melhor, falta um solo no final.



As críticas foram pela maior parte bem positivas, não tanto quanto seu antecessor e nenhuma negativa como em Era Vulgaris, também está vendendo bem, dessa vez ficou em terceiro lugar na Billboard 200 na semana de lançamento. 

Pessoalmente considero o trabalho mais fraco da banda até então, mas isso só prova o quão boa a banda é, pois esse ainda é um álbum acima da média e vale lembrar que nenhum disco da banda está abaixo, todos são bons de alguma forma, seja o som mais sujo de Queens e Era Vulgaris, a fábrica de hits de Songs e Lullabies, ou os sombrios Like Clockwork e Rated R, Queens of The Stone Age é a banda de rock moderna mais consistente no mercado.






 

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